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Hashtags não derrubam governos

Por Tiago Dória

Acreditar que a internet, por si só, fortalece a democracia é uma ideia tão simplória quanto achar que a queda de um governo autoritário sempre dá lugar a um democrático.

E mais, ao contrário do consenso geral, governos totalitários perceberam que o mundo mudou. Notaram que estão em um mundo de abundância de informação e que bloquear urls é coisa do passado. Hoje, usam formas bem mais sutis de censurar as vozes dissidentes.
Nessa história toda, o governo do Egito é uma exceção. Percebeu muito tarde que é mais eficiente monitorar a internet a bloquear o seu acesso.




Uma das novas formas mais simples de sufocar as vozes dissidentes é justamente se aproveitar das características da web, como a descentralização. Em ambientes descentralizados é bem mais fácil espalhar boatos.
Durante os protestos em Teerã, em 2009, por exemplo, o governo iraniano usou o Twitter para propagar boatos e dessa maneira colocar a população em pânico e passar uma visão de que os protestos não eram tão populares.  Enquanto a imprensa no Ocidente glorificava o papel do Twitter, ativistas no país pediam que não se usasse o serviço de microblogging como fonte de informação, devido à enorme quantidade de boatos.
Ainda durante os mesmos conflitos, o governo iraniano colocou no ar um site com fotos dos protestos e pediu que a população ajudasse a identificar as pessoas nas imagens. Crowdsourcing a favor da repressão.
Com a onda do botão “curtir” no Facebook então, a navegação ficou menos anônima. Basta entrar no perfil de uma pessoa para saber por onde ela andou navegando (ou “curtindo”) nos últimos dias. Na Síria, já se fala que o Facebook é um grande banco de dados para o governo.
Em janeiro de 2010, Ahmadi Maghaddam, chefe da polícia iraniana, disse que “as novas tecnologias permitem identificar conspiradores sem a necessidade de controlar individualmente cada pessoa”.
E, no próprio Egito, na semana passada, ativistas da oposição orientaram as pessoas a parar de utilizar o Facebook e o Twitter e  priorizar o email, mais difícil de ser monitorado.
O governo da China, por sua vez, já está flertando com técnicas de data mining para analisar tendências em um nível macro nas redes sociais.

Por isso, na visão de Morozov, ao contrário do que os fundadores do Facebook e do Twitter dão a entender, as plataformas de redes sociais são uma faca de dois gumes para quem é dissidente.
Por um lado, dá mais visibilidade internacional. Mas, por outro, deixa mais vulnerável quem as utiliza.
É comum as pessoas serem presas no Irã, Nigéria e China com base em informações publicadas em seus perfis em redes sociais.
Análises sobre a internet, principalmente nas produzidas pela imprensa ocidental.
Nem sempre acesso à informação torna as pessoas mais politizadas. Na China, a maioria dos usuários usa a rede para baixar filmes pirateados dos EUA e não para acessar informações políticas. Na Rússia, os blogs mais visitados não são os políticos. Pelo contrário, são os de humor e sexo.
Na Alemanha Oriental, as poucas pessoas que tinham acesso a redes de TV ocidentais usavam-nas, principalmente, para assistir seriados como Dallas e Miami Vice. (Até hoje, nos círculos de pensadores americanos, acredita-se que o Muro de Berlim caiu por causa da TV e não em razão de um processo, fruto de anos de descontentamento político e econômico).
Um dos muitos destaques de Net Delusion se dá quando Morozov analisa por que, muitas vezes, o ativismo facilitado pelas redes sociais faz muito barulho, mas resulta em quase nada. Haja vista aqui, no Brasil, o #forasarney (Sarney está mais presente do que nunca na política brasileira).
A capacidade de mobilizar ainda está encantando os ciberativistas, embora a capacidade de agir seja bem mais importante.
Outra questão exposta é a de que, na maioria das vezes, esse tipo de ativismo acontece por motivos que nada têm a ver com ideais ou causas políticas, mas sobretudo para impressionar os amigos e criar uma identidade online. A rede social favorece isso. Vou participar por que os meus amigos estão participando. Vou participar para mostrar que não sou alienado, e não falo apenas bobagens no Twitter.

Para Morozov (foto acima), o resultado é uma baixa taxa de comprometimento e uma alta quantidade de participantes. Combinação nociva para qualquer movimento.
Quanto maior o grupo, menor a pressão para apresentar resultados (se eu não fizer nada, ninguém vai perceber já que tem tanta gente mesmo). Ou seja, se não existem meios de mensurar a participação de cada em um movimento, os efeitos são mínimos.

Por essa razão,  nas plataformas de redes sociais, é muito fácil você “fazer a sua parte”, basta usar uma hashtag, mudar a cor da foto em seu perfil, e pronto!
De acordo com o pesquisador, revoluções exigem 3 coisas – disciplina, líderes e comprometimento. E isso você não encontra nas redes sociais que nivelam todo mundo na horizontal.
Em questão de segundos e de forma indolor, você pode deixar de apoiar uma causa no Facebook, sem qualquer comprometimento ou remorso. As plataformas de redes sociais são um dos poucos ambientes onde, ao mesmo tempo, você pode apoiar todas ou nenhuma causa, conclui Morozov.
Pelo que tenho percebido, por tratar de temas polêmicos,  Net Delusion caminha para o mesmo fim de Free, de Chris Anderson – tornar-se um livro mal compreendido.
Em nenhum momento, Morozov afirma que a internet não tem capacidade de fortalecer a democracia. Pelo contrário, ele acredita que os dissidentes devem sim utilizar Twitter e Facebook, mas desde que estejam familiarizados com os riscos. 

A tecnologia de “cloud computing”, por exemplo,  é algo que Morozov acredita estar ajudando os opositores.
Em essência, o livro não vai de encontro a este ou aquele país, mas sim contra o “determinismo tecnológico” (de achar que a internet tem um papel determinante em tudo). 

Para Morozov, essa linha de pensamento pode ter efeitos nocivos para a democracia, ao tentar resolver problemas que são muito mais sociais, culturais e econômicos com uma mera solução tecnológica.
Esse “determinismo” estaria afastando-nos das questões essenciais, como a de que governos autoritários morrem por causa de problemas políticos e econômicos. Em regra, se a economia está boa, dificilmente um governo cai.

Vi no Tiago Dória Weblog

Um comentário:

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Caso queira ofender minha honra ou de outrem, enviar sugestões , ou elogios , favor enviar emails para carlosclonebh@gmail.com e terei prazer em responder. Ou farei só por obrigação.

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